segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O maldito Orkut

Quando o orkut começou em 2004 era uma coisa seleta. Além da necessidade de ser convidado e ter um limite de convites, a rede social ainda era inglês, o que afastava grande parte das pessoas portadoras de deficiência intelectual, os famosos isentos. Mas aí a coisa descambou. Liberou o acesso sem convite e traduziu pro português e pronto. O circo tava armado.
Todo mundo faz parte do orkut. Os meus irmãos tem orkut, meus professores tem orkut, minhas primas tem orkut, um amigo lá tem orkut e praticamente todos os meus amigos têm orkut. Pode-se dizer que a maioria da população brasileira usa a rede social. Todo mundo marcando presença lá. E sabe o que isso significa? Significa que qualquer desgraça que acontece, as pessoas vão direto no orkut procurar o profile dos envolvidos.
Na época em que a Suzane Richtoffen concedeu aquela entrevista ridícula ao Fantástico, logo procuraram o profile da moça no Orkut. E pra quê? Pra xingar. Porque brasileiro só sabe fazer isso, xingar as pessoas no orkut. Não que ela não merecesse, mas achar o profile dela não teve outra utilidade a não ser fornecer entretenimento barato para as pessoas.
Depois foi o acidente de carro com os cinco jovens no Rio de Janeiro. Aquele mesmo, que o boyzinho deu de cara com o seu Honda Civic em uma árvore depois de encher a cara na boate. Acharam o profile de todas as pessoas e em um momento de comoção deixaram scraps desejando boa viagem aos jovens. Não sei se esperavam resposta né? Criaram um tópico na comunidade Profiles de Gente Morta só para divulgar. ( PGM aí gente o/)
Depois vieram os acidentes da Gol e da TAM. Aí foi um prato cheio. Quase 200 pessoas mortas. Era óbivo que mais da metade das vítimas teriam orkut. Dito e feito. Criaram mais um tópico na Profiles de Gente Morta para listar o orkut das pessoas. Pilotos, Tripulantes, passegeiros. A maioria possuia um profile e como brasileiro tem um dom natural de descobrir os culpados de tudo, encheram o scrapbook dos pilotos com mensagens de discórdia e ódio, culpando os mesmos pelas tragédias. No das vítimas, apenas desejam também uma boa morte. Alguns até adicionavam.
E hoje, o caso mais recente é, o da Eloá, Nayara e Lindemberg. A primeira coisa que fizeram logo após o anúncio do sequestro foi procurar os referidos profiles. Mas graças à evolução do Orkut, foram criadas ferramentas de privacidade que permitem às pessoas receberem scraps somente de amigos. Uma evolução, com certeza, pois evitava que essas pessoas, que se deliciam em profiles de mortos como as moscas saboreiam a merda, deixassem os scraps inúteis, como se fizessem parte da vida das meninas.
Porém, sempre há um porém, algum contato da menina que tinha acesso ao álbum dela divulgou as fotos e a partir daí profiles fakes foram sendo criados, pois com certeza atraíriam toda a sorte de pessoas que consomem essas tragédias da mesma forma que consomem novelas da Globo. Também criaram comunidades no Orkut saudando as meninas, como se essa fosse a maior homenagem que uma pessoa pode receber.
O que eu quero dizer com esse texto é que, ao mesmo tempo em que uma ferramenta como orkut facilita a vida das pessoas, ela também virtualiza todo o tipo de ações. Hoje em dia qualquer criminoso em potencial, na maiorio jovens, ou mesmo vítimas, tem um profile no Orkut. Lá as pessoas tem a oportunidade de descontar a sua frustração, já que não teriam coragem de dizer tudo o que falam pessoalmente para a pessoa.
Muitas vezes para manter a privacidade não deixam Scrap mandam um Depoimento mesmo. Ficam no conforto da sua casa, fazendo dos Scraps de tal pessoa um chat. Conhecendo pessoas novas e fazendo contatos. Quem sabe desses chats não sai até algum casal? ( haha)
O orkut definitivamente devia acabar. Fugiu totalmente da sua proposta inicial e criou uma multidão de consumidores de tragédias, pessoas que se consideram justiceiras pelo fato de criarem um profile e xingarem criminosos, ou deixar mensagens de boa morte às vítimas desconhecidas. Ao invés de ficar no orkut fazendo essas coisas, faça algo útil